Gosto de ser e de estar
E quero me dedicar a criar confusões de prosódia
E uma profusão de paródias
Que encurtem dores
E furtem cores como camaleões
Gosto do Pessoa na pessoa
Da rosa no Rosa
E sei que a poesia está para a prosa
Assim como o amor está para a amizade
(Caetano)

sábado, 29 de maio de 2010

À mais divina entre as marias

À mais divina entre as marias:Maria do Coração de Jesus, e não qualquer Maria; Maria minha, mãe de minha mãezinha.Com muito amor, de sua netinha.

Oh, Pai!
Dou-lhe infinitas graças ainda mais,
pois, em tuas divinas premissas,
em tempos de trevas e agonias,
colocaste, no meio de nós,
tão repleta de glórias e encantos,
a mais formosa criatura,
que mimoseia cada dia
com altivo perfume
e inigualável magia!

Louvo,
exultante de alegria,
tua Terra
e tudo o mais que há nela.
Enalteço, todavia,
princípio, meio e fim
de tanta compaixão e sabedoria,
pois, em tempos de amargura e estupidez,
colocaste no meio de nós
esse casto presente de Luz
chamado Maria!

Maria Amor
Maria Inocência,
Maria Flor,
e não qualquer Maria.
Teu nome é claridade
para qualquer temor
e tua missão, caridade,
cuidado, perdão,
aconchego, calor!

Não é por acaso, Maria,
que estarás para sempre
cravada no cerne da Luz,
fundindo teus benditos acordes
à Altíssima Sinfonia,
ao mais casto dos milagres:
Nosso Senhor Jesus!

Maria Maria,
honro teus préstimos
e professo-lhe serventia
pois és tu,
e não qualquer Maria,
a maior das alegrias,
a mais digna criatura,
a mais radiante energia.

Maria,
sopro de vida,
antes de bendizermos tua alcunha
faz-se cogente a reverência,
visto que não és qualquer uma,
mas a mais bem escolhida,
entre mães e mulheres, para,
no coração do Senhor Jesus,
imperar,
repleta de graça e revelia.

Maria, simplesmente,
Maria, fulgor do dia,
aquela que, unicamente,
entre mil senhorias,
o mais pleiteado recinto habita.

Mulher-acorde
da mais altiva sinfonia,
metade brotada no cárcere
do mais casto dos milagres.

Não sendo, pois, qualquer Maria,
Maria és, personificada em Divina Flor,
acolhida pelo próprio Sagrado
para habitar o Imaculado,
Onipotente Coração de Nosso Senhor!

domingo, 23 de maio de 2010

A história do Amor


Ao meu Amor Roulien Bohrer,
sem o qual não há Sol,
não há Vida.

Fim de sábado, prenúncio de um lindo domingo de março! Com águas, findava-se mais um verão. Era o prenúncio de um outono particular, suscitando nova gestação em mim, fazendo-me retornar ao pó para renascer em um novo e cintilante Sol, que anunciara sua chegada há tempos. Porém, devido à cegueira que há muito me aventurava ensaiar, só percebi seu advento após ter permitido baixar a maré de um braço-de-mar bravio e cinzento.

Era sábado, início de um lindo domingo de março! Aceitava eu, resignadamente, a passagem de uma estação cálida para outra, morna, crendo que a amargura seria inevitável. Mas, ascendia Ele, generoso, cortês, influente, caridoso, companheiro, iluminando tudo, banhando-me a alma com seu licor de calor e miraculosa graça. Permiti, então, que em mim fixasse morada, pois, deste modo, renascer seria conseqüência inevitável e vital daquela respeitável estação:

Neste sábado, começo de um lindo domingo de março, Sol chega faceiro, cumprimentando sua dama com o afã de uma madrugada bem vivida, em que comemorava mais uma importante vitória de sua vida, utilizando todo o seu talento para seduzir a Dona que, desde então, não mais permitiu ser outra. 

Permaneceu, discorreu meia dúzia de versos, e ousaram, enfim, o tão esperado, e inevitável, ósculo. Junto com ósculos, amplexos, afagos, cheiros...

Então, nesse prenúncio de domingo, deu-se o casamento dos dois: Sol, sem pedir licença, injetou em Dona a mais alta dosagem de Luz e Calor que fora capaz e, com a chuva que caía dentro da menina que dançava dentro da menina, fez brotar uma imperiosa aliança entre eles: um reluzente arco-íris unia-os, agora, para sempre.
O tempo passou. Outonos chegaram... Partiram... E, ainda hoje, Dona de seu Sol, Sol de sua Dona, continuam tecendo manhãs e entardeceres de diferentes estações. Mesmo após uma breve separação, porém longa para o Amor, permanecem firmes, alimentando o brilho do formoso arco-íris.

Os deuses contam que não há no mundo história de Amor tão triste como essa, e que o Criador encarregou-se, pessoalmente, de passar uma borracha nos entremeios dessa narrativa. Porém, outra notícia se espalha no Olimpo: as dores existentes nessa passagem foram obstáculos impostos pela vontade, nunca contrariada, do próprio Zeus. Objetivo: colocar os dois jovens à prova de si mesmos para empreender, ao final, o triunfo do Amor. Resultado: Sol e Dona, enfim, fundiram-se, formando uma única representação. Amor é seu nome, propagar sua voz ao mundo, a grande responsabilidade. Não há meios de mudar o final. Esgotaram-se as possibilidades de rejeição deste Sim, now.

Hoje, firmes em um nó, Sol e Dona bailam, brincam, brindam o silêncio, a paz, a alvorada, os entardeceres... Adormecem a cada noite. Renascem a cada dia, exultantes de alegria!

Sorte? Talvez, pois não são todos os escolhidos para embarcarem em uma missão tão importante. Estava escrito? Crê-se também, tendo em vista que tudo fora tão divinamente encadeado que, às vezes, assombra-se quem realmente conhece tal biografia. Contudo, o que verdadeiramente importa é o fato de esta porta aberta, uma vez aberta, não poder mais ser cerrada e que Divino é o Amor, que tudo suporta e em tudo espera resignada, consciente, decididamente.

Com muito, muito Amor,
Isa Resende.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

O silêncio do poeta

Homenagem a Welington Magno, poeta mineiro, das Gerais, isso aí!
Gente de minha terra querida, meu berço, minha raiz.
http://recantodasletras.uol.com.br/autores/montanha

Quando o poeta silencia seu canto
é porque em breve
uma estrela a mais
abrolhará no céu,
repleta de luz,
esplendor,
ardor
e flamejar!

Quando o poeta repousa em seu leito
põem-se os anjos a trabalhar
e seu interior enfeitar
com feixes de Divina Luz,
pétalas azuis
e profundo vicejar.

Que maior descrição encerrará
o trovador que se refugia para calar
e, quando regressa ao lar,
põe-se a bradar
com tanto sentir,
tamanho silenciar,
que seu interior
ornado de pétalas azuis,
feixes de Divina Luz,
profundo vicejar,
deleita-se a eclodir e vaticinar
mundos além-céu,
universos além-mar...

Só há como a voz dessa alma nomear
Luz do Sol a Reluzir,
Água do Mar a Rebrilhar,
Mais Profundo Olor,
Certeiro Balbuciar.

Palmas
para o Poeta-Mar,
para o Poeta-Luz,
para o Poeta-Dor,
para o Poeta-Cor,
para o Poeta-Amar!

Ovacionemos, pois,
esse tartamudear!
Esse som que nos faz calar!
Esse brilho que nos acomete
tão afável lacrimejar!

Sinto o poeta em mim,
em ti,
em nós,
em tudo
poetizar!

Eis o verbo certeiro
para incidir em cheio
o universo,
o altar dos cegos,
surdos, calados...

Oh, Mundo dos versos
e de muitos outros cursos
tão bem postos,
descritos,
propostos!

Profundo orbe submerso
em clamor errante!
Gozo pleno e profundo
de um calar arfante,
regozijante, taciturno,
gatuno, rutilante!

Bravo,
Poeta-Mar,
Poeta-Luz,
Poeta-Dor,
Poeta-Cor,
Poeta-Amar
e todo esse tartamudear!

Teu ente respinga em mim
e de mim não quer se apartar.
A não ser que Deus permita,
nesta ou noutra vida,
transcender em teu calar
e, assim,
una a ti embalar,
rumo a Estrela-Mor,
só,
sem dó,
alma alada no Parnaso,
atenuada,
subalterna.

Minha benção, poeta!

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Quefazeres

Fardo desmedido.
Carga desvalida.
Suor à base de açoite,
aquemeneres:
Ande.
Mais rápido.
Nesse instante, ignaro.
Tudo é mandatório,
nada é prioritário.

Nessa desordem, emporisso,
caço o mínimo:
coordenar os pensamentos
para gozar de tudo um pouco,
uma vez que a vida e uma,
mas, ser vivida, para nem tantos.

Rebelar-me?
Careço de pão.
Conformar-me?
Perco o chão.
Arrepelar-me?
Não, não, não.

Oh, rebuliço!
Há outra saída
que não seja abdicar
dessa tão querida e ambígua lida,
visto que também é bandida?

Não admito a submissão
como prenúncio de transformação.
Nascemos para a liberdade.

Omissos, demissos, permissos...
São como crissos:
produtores de húmus para os crassos
chacinarem todas as rosas
e,enfim,
apresarem a primavera inteira.

Pensemos, pois, nisso?

sábado, 8 de maio de 2010

O vácuo ululante de muitos

Contemplo meu lado obscuro
e percebo que, além de hermético,
é surdo.

Vou um pouco mais profundo
e noto também:
ele é mudo.

Aprofundo-me nesse mundo,
aos olhos de muitos, escuso,
e aventuro-me injetar nesse vácuo
uma insuficiência de tudo.

Por não conseguir despontar, concluo:
não é somente conteúdo
o urgente adubo desse reduto, mas
sonhos,
espera,
contentamento com pouco,
o simples duradouro,
aquilo que não se esgota em si próprio.

Volto, assim, ao meu lugar de aspirante,
sabedora, pois, do que é este ponto.

Na busca contínua, prossigo,
procurando obter, pelo menos um tanto,
que já será muito,
do que careço para sair do recinto
onde, há séculos,
encontro-me aflito.