Gosto de ser e de estar
E quero me dedicar a criar confusões de prosódia
E uma profusão de paródias
Que encurtem dores
E furtem cores como camaleões
Gosto do Pessoa na pessoa
Da rosa no Rosa
E sei que a poesia está para a prosa
Assim como o amor está para a amizade
(Caetano)

domingo, 1 de dezembro de 2013

A saga de Zazá


Porque Zazá estava feliz, queria somar e multiplicar o sentimento antes de dividi-lo, para dar certinho para todo mundo que merecesse. Mas, como não surgiu ninguém, o que era para ser bom perdeu a validade: transformou-se em solidão por não ter sido compartilhado no momento certo; foi-se apagando, fincando cinza, preto, pretinho, virou pó.

Na verdade, ela era toda coração (este que vos fala), mas descobriu que tudo demais sobra, e o que sobra deixa de ter o efeito visado. Não soube dar a volta por cima e se enterrou para dosar o exagero.

Nas profundezas, aprendeu que as oportunidades têm prazo de validade, assim como a beleza, a pureza e algumas amizades. Então, decidiu viver cada momento como se deve: sem preocupação com qualquer coisa que dependa do futuro.

Confesso que estou otimista com a saga de Zazá, pois, embora seja medrosa e indecisa, ela é ousada e perseverante. Apenas EU sei ler cada cantinho dela e compreendo, pois, que potencial não lhe falta para o sucesso. Esforçar-me-ei para mostrar este lado que ela desconhece. Contudo, teimosia lhe sobra e é o que me impede de dar garantias.

É esperar para ver!

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

A casa de Zazá


Zazá namorava o nada. Por trás do olhar vazio e do sorriso brando, havia passagens que desejava reviver com a mesma intensidade de outrora. E pensava: “menina arteira tem de levar palmada”. Como sofria a coitada!

Dali, brotava um choro contido pela necessidade de continuar caminhando, pois sabia que o tempo não a esperaria terminar de estar com suas memórias para passar e a castigaria se insistisse em permanecer lá, e não ali.

Então, pela certeza que teve de que sua única aliada era a própria companhia, decidiu deixar pra lá e sair dali. Mas, desta vez, foi diferente: sabia que era ela, E-LA, o seu lar, e o melhor lugar para estar!

Zazá encontrou, assim, a famosa, tão buscada fora, Felicidade e sentiu uma alegria incomum, perspicaz: nada que pudesse acabar de tanto gastar; nada tão pleno que já tivesse conseguido experimentar. Foi algo singular, sublime demais para falar e perene demais para acabar. Sem par.

Naquela estação, partir foi a decisão mais sábia de sua vida. De tão especial, decidiu documentar o momento, com fotos e letras, para a posteridade contemplar e aos mais queridos certificar de que há, sim, um lugar que vale muito a pena conhecer para sempre estar.

Abandonou apartamento, amigos, família, paixões e tudo o mais que pudesse travá-la. Isso faz um bom tempo...

Alguns dizem que, hoje, está louca para sair da morada; outros, que não dá as caras na janela há séculos, pois tem mais o que fazer. Já a maioria afirma que estar com ela é tão bom que nem dá vontade de voltar para os apartamentos. Estes não querem trabalhar; não sabem o esforço que aquela menina levada teve de fazer pra conseguir morada boa, e defendem:

- Vamos pra casa de Zazá, que é ampla! Se cabe todo mundo lá, para que recuar?

Paredes riscadas, lençóis furados, chão arranhado, panelas velhas, pele enrugada... A casa de Zazá virou casa de avó, onde tudo tem um mundo de histórias para contar. Agora, ela precisa, de qualquer jeito, fazer o tempo virar seu aliado, pois a vida encolheu e precisa parar de querer terminar. 

Enfim, foi autorizada a estar bem à vontade com suas memórias - mas não para se deliciar, pois agora é que não dá mesmo pra voltar, e, sim, para passá-las aos netos que a Felicidade se encarregou de lhe dar (sem precisar  pedir ou implorar!). 

domingo, 17 de fevereiro de 2013

Relações humanas



Não pedimos para as pessoas entrarem em nossas vidas; elas simplesmente adentram, rasgando tudo, sem pedir licença, e, quando percebemos, estão morando dentro de nós. É como invadir um latifúndio, por necessidade ou não. O problema é quando criam raízes e, do nada, decidem fugir. Como colocar a viola no saco e evadir de si mesmo para não conviver com a falta de alguém que nos cativou? “Tu te tornas eternamente responsável pelo que cativas”, lembra?

Não. Nesta hora, ninguém se recorda! É cada um por si; é a chata da vida querendo nos ensinar, como um professor tentando ser mais claro para o aluno que não conseguiu assimilar o conteúdo. A diferença é que, neste caso, TODOS os aprendizes têm déficit de atenção.

Errar pode ajudar a lapidar os sentidos: falar menos, ouvir mais; tocar menos ou mais; observar, respirar mais. É, portanto, a grande chave para aguçar a intuição, deusa interior que indica caminhos certos e poupa desgastes. O difícil é ter a inteligência necessária para nos transformarmos positivamente com os erros! Neste caso, adianta pouco um QI elevado; o que conta, de fato, é saber lidar com as emoções e as boas lembranças. 

Eis o caminho das pedras!