Um não-sei-quem,
Um não-sei-como,
Um escuro sem amanhecer,
Com deslizes um ser assombra.
Fantasmagoria entorpecida
Estranho gnomo
Fardo malicioso
Precioso pomo.
Do altíssimo infinito
Reluziu esse espectro
E, em ermos jardins,
Frutificou desertos.
Sombra e luz ocasionais
Gemidos distantes por demais,
Assombro inebriante,
Fumaça cinzenta, inquietante,
Passageiro errante,
Divino império decadente...
Transeunte do infinito,
Ser proscrito,
Enviado de mundo desconhecido,
Passé!
Tudo passa, terror bandido.
Insepulto estivera
Inumado estás agora
Vá adiante, vulto segredado.
Seja o que for,
Parta levemente.
Ao teu sofrer sagazmente esquecido
Faça brotar reluzente brilho,
Pois no paiol de tua esperança
Já não mais há para ti asilo.
Coragem, cavaleiro sombrio!
Que o vento o arranque para qualquer recinto
Onde nenhum ser maldito
Possa achá-lo escondido.
Se assim for,
Os sonhos que gozou ou gozará,
Sem bendizer ou amaldiçoar,
Os lusco-fuscos os farão presentes.
Arremesse-se macio, doce, breve.
Voe em paz,
simples, honesta, sinceramente!
Com beijos de luz,
Isa Resende